Seção: Tutoriais Infraestrutura
|
|
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Conforme discutidos no primeiro tutorial, há grande importância no uso das Demonstrações Contábeis. Essas são elaboradas a partir de certos princípios contábeis e são usadas pelos interessados nos negócios (acionistas, credores, fornecedores, governo, etc.) para as mais diversas finalidades.
Em termos mais globais, os demonstrativos constituem um instrumento de acompanhamento e controle da situação econômica, financeira e patrimonial das empresas. Essas peças traduzem, em uma linguagem específica, os resultados das atividades empresariais e permitem que os usuários, internos e externos, avaliem o empreendimento em um sentido estático e dinâmico.
Sempre devemos considerar que cada decisão corresponde a um impacto econômico, financeiro e patrimonial cuja extensão depende de muitas variáveis. A avaliação por meio de indicadores econômico-financeiros se presta as análises retrospectiva (avaliação das ações levadas a cabo pelos gestores, credores, etc.) e prospectiva (avaliação provável do impacto de decisões gerenciais e da implementação de novos projetos).
Índices de Solvência ou Liquidez
Os índices de solvência medem a capacidade de uma empresa de saldar suas obrigações de curto e de curtíssimo prazo; ou seja, indicam a capacidade de pagamento de suas contas repetitivas. Freqüentemente esta classe de índice se encontra associada às exigências de capital de giro (razão entre ativos e passivos circulantes e variações nas demais contas do ativo e passivo que geram mudanças nos níveis de caixa).
A fonte principal de pagamento dessas dívidas de curto prazo é o ativo circulante (AC) – embora as empresas possam se desfazer de ativos imobilizados (AI) ou outros ativos fixos (AF) como meio de fazer frente a dificuldades de caixa. As informações obtidas em sua apuração provêem do Balanço Patrimonial.
Contudo, a origem dos movimentos na liquidez também pode ser capitada por meio do Demonstrativo de Fluxo de Caixa. Uma operação de financiamento ou a venda de um ativo pode ampliar o volume de caixa. Por outro lado, o pagamento de juros ou a aquisição de um ativo pode diminuir o nível de caixa de uma empresa.
Conforme o quadro 1, duas formas de medir a solvência são largamente utilizadas. O índice de liquidez corrente (ILI) é obtido por meio da razão caixa (C) que compreendem recursos imediatamente disponíveis (recursos monetários em espécie, depósitos bancários e aplicações em papeis de curto e curtíssimo prazo) e passivo circulantes (PC). O ILI indica qual a proporção entre ativos imediatamente líquidos e passivos exigíveis no curto prazo.
O índice de liquidez corrente (ILC) é obtido por meio da razão entre ativo (AC) e passivo circulantes (PC). Caso tenha problemas de saldar as dívidas de curto prazo a empresa poderá passar por sérios problemas sendo obrigada a renegociá-las ou obter crédito bancário adicional – em condições nem sempre favoráveis.
Neste caso, o passivo circulante pode crescer ainda mais rápido que o ativo circulante conduzindo a graves problemas de solvência no futuro. Um baixo ILC representa o primeiro sinal de problemas financeiros. Da mesma maneira com que devem ser lidas as demais classes de índices apresentadas a seguir, estes devem ser avaliados sob uma perspectiva histórica e comparado aos níveis verificados em outras empresas do setor.
O índice de liquidez seco (ILS) é calculado por meio da razão entre a diferença entre o ativo circulante total e os estoques (Est) e o passivo circulante. Considera-se que os ativos prontamente disponíveis são rapidamente conversíveis em caixas sem grandes perdas de valor; o que não é o caso dos estoques. Portanto, este indicador mede a capacidade da empresa de saldar suas dívidas de curto e curtíssimo prazo sem abrir mão de seus estoques. O quadro 2 apresenta os referidos índices de liquidez.
Em suma, o índice de liquidez corrente (ILC) mede a disponibilidade de recursos e a capacidade de pagamento de contas das empresas. Dá uma idéia a cerca da necessidade de empréstimos para financiamento de capital de giro. Já o índice de liquidez seco (ILS) deduz do ativo líquido a conta estoques, pois da classe de ativos circulantes, são os ativos de menor liquidez perdendo grande parte de valor em caso de sua liquidação.
Os índices de solvência ou de liquidez se relacionam diretamente com uma série de fontes de riscos (operacional, financeiro, de mercado, de liquidez, cambial e de poder aquisitivo). Quanto maior a previsibilidade das receitas e dos custos correntes, maior o grau de aceitação de índices de liquidez relativamente baixos.
Índices de Atividade ou Administração de Ativos
O nível de investimento em ativos está relacionado a vários fatores: setor de atividade, sazonalidade, características do ciclo operacional, volume de capital alocado (dada a estratégia adotada pela empresa), etc. Portanto, refletem peculiaridades setoriais e as decisões dos gestores. Como pode ser observado no quadro 3, os índices de atividade são construídos para medir a eficácia com que os ativos de uma empresa são empregados e a velocidade com que as várias contas são convertidas em receitas operacionais.
Um dos indicadores mais empregados para medir a eficiência na gestão de ativos é o índice de giro total de ativos (IGT). Este é obtido por meio da razão entre a receita operacional e o ativo total. Se este índice for elevado, quando comparado a empresas do mesmo setor, há indícios que a empresa gerencia bem seus ativos. Caso contrário, ela deve avaliar a magnitude desses e ou aumentar seu esforço na obtenção de receitas. A interpretação desse indicador deve ser ponderada pela idade dos ativos que ela dispõe.
Ativos mais antigos possuem valor de livro mais baixo do que os ativos mais novos, distorcendo sua interpretação. Dado o nível de receitas, o processo de acumulação de capital de cada empresa também interfere na magnitude do GAT. O índice de poder de ganho (IPG) mede a relação entre o lucro líquido e o total de ativos e servindo como medida da eficiência global na alocação de ativos por parte da empresa.
Outro importante indicador do grau de eficiência com que uma empresa gere seus ativos é o índice de giro do ativo imobilizado (GAI). Este é obtido por meio da razão entre a receita operacional bruta e o ativo imobilizado. A partir do saldo médio de contas a receber (SMR) é possível obter o giro de contas a receber (GCR). Este capta apura quantas vezes a receita operacional é maior que o volume de vendas entre dois exercícios.
Em suma, o SMR e GCR medem a eficiência com a qual a empresa gere seus investimentos em contas a receber refletindo a política de crédito junto a seus clientes. Há outros tipos de índices de atividade, entre eles o índice de índice de rotação estoque (IRE) que mede a eficiência na gestão de estoques.
A figura 3 ilustra os prazos médios de recebimento, pagamento, estoques e a determinação do período de caixa (número de dias em que parte das despesas da empresa fica a descoberto). A avaliação desses prazos médios é vital. Muitos dos problemas de insolvência estão relacionados a descompassos entre pagamentos, estoque e recebimentos.
Para medir o prazo de pagamento, estoques, contas a pagar e período de caixa há índices específicos. O número de dias de contas a receber (DCR) ou prazo médio de recebimento (PMR) compreende a razão entre o volume de contas a receber (CR) e as vendas médias diárias (obtidas por meio do volume global de rendas ou receita operacional bruta dividido pelo número de dias no ano). Note o DRE registra o volume de vendas ao longo do ano. Já o BP registra as contas a receber um momento do ano. O DCR apura em quantos dias, em média, são recuperadas as contas a receber.
O número de dias de estoque (DEst) ou prazo médio de estoque (PMEst) compreende a razão entre o volume de estoques (Est) e as vendas médias diárias (obtido por meio do volume global de rendas ou receita operacional bruta dividido pelo número de dias no ano). Ele apura quantos dias, em média, os recursos de curto prazo ficam alocados em estoque (matérias primas, produtos em processamento e produtos acabados).
Já o número de dias de contas a pagar (DCP) ou prazo médio de pagamento (PMP) compreende a razão entre contas a pagar (CP) e as vendas médias diárias (obtido por meio do volume global de rendas ou receita operacional bruta dividido pelo número de dias no ano). Ele apura quantos dias, em média, os recursos de curto prazo ficam alocados em contas a pagar, ou seja, quantos dias a empresa usa recursos dos fornecedores para se financiar.
Por fim, o período de caixa (PCx) compreende a diferença entre (DCR + DEst) e DCP. Ele indica o período em que a firma fica a descoberto, tendo que financiar suas operações com recursos próprios. Note que a maior parte dos indicadores de gestão de ativos compreende razões entre certas contas presentes no Balanço Patrimonial (BP) e no Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE).
Esta classe de índices econômico-financeiros também possui relação com os riscos operacional, financeiro, de mercado e de poder aquisitivo apresentados, sendo afetados pela variação no nível de receitas de vendas e volume de estoques. Assim, estão associados à política de administração de ativos da empresa (composição de contas a receber, magnitude e tipos de ativo imobilizados, etc.). Particularmente, as estratégias de investimento de cada empresa afetam consideravelmente a magnitude dos índices de poder de ganho e de gestão de ativos totais e imobilizados.
Índices de Alavancagem Financeira ou Endividamento
A capacidade de investimento aumenta o potencial de retorno de um empreendimento e sua correspondente capacidade de endividamento uma vez que ampliam o volume de ativos e capacidade de geração de receitas. A composição de recursos destinada a financiar o empreendimento deve ser planejada com objetivo de maximizar o valor do empreendimento. Em geral, o uso elevado de capital de terceiros indica uma situação financeira precária, a depender do setor de atividade.
O analista financeiro se preocupa mais com as dívidas de longo prazo, uma vez que estas comprometem a capacidade da empresa ao longo de muitos períodos. Quanto maior a utilização de recursos de terceiros maior seu nível de alavancagem financeira, ou seja, ocorre a ampliação conjunta dos níveis de risco e do retorno.
Conforme o quadro 4, o grau de alavancagem financeira pode ser medido por meio de vários índices. O nível desses indicadores dá uma noção acerca da “probabilidade” de não pagamento das dívidas contraídas. Quanto mais endividada uma empresa estiver, maior o peso da dívida onerosa e a possibilidade de não cumprimento de suas obrigações contratuais. Diferentemente do pagamento de dividendos, que dependem da política de redistribuição do lucro líquido da empresa. Dívidas geram obrigações jurídicas e seu não pagamento pode levar a sanções por parte dos credores e até a liquidação da empresa (DAMODARAN, 2004; GITMAN, 2000).
O índice de endividamento geral (IEG) é obtido por meio da razão entre o total das dívidas (Passivo Circulante e Exigíveis a Longo Prazo – ELP) e total dos ativos. Quanto maior seu valor maior a participação de capital de terceiros no financiamento das operações corporativas. Outros índices bastante empregados são o multiplicador de capital próprio e de terceiros (MKPT) e o multiplicador de capital próprio (MKP). Estes informam sobre a proteção dos credores contra insolvência e a capacidade de obtenção de financiamento adicional – tendo em vista o aproveitamento de oportunidades de investimento entendidas como potencialmente atraentes.
O índice de cobertura de juros (ICJ) mede a capacidade da empresa de efetuar pagamentos de juros previstos em contratos. Ele é obtido por meio da razão entre o lucro antes de impostos e juros (EBIT [1]) e o valor dos juros (J). Vale destacar que o valor EBIT corresponde ao resultado operacional apresentado no Demonstrativo de Resultados.
Considerando o valor dos ativos (financiados com capital próprio e de terceiros), os índices de alavancagem ou endividamento são afetados pelo estoque da dívida, fluxo de pagamento de amortizações e pelo nível de taxas de juros possuindo relação direta com o risco de taxa de juros e cambial (a depender do contrato de financiamento) e com o risco de tributação (em razão da possibilidade de se afetar o lucro tributável).
Como o setor naval é intensivo em capital, se espera que os índices de endividamento das empresas ligadas ao setor sejam elevados quando comparado a outros setores da economia. Contudo, como o cálculo do ativo imobilizado é feito a partir do valor do livro pode haver distorções na interpretação no ICJ. Apesar disso, para intervalos curtos de tempo estes constituem uma boa ferramenta analítica uma vez que o setor possui baixa velocidade no incremento de investimentos e no correspondente incremento do endividamento.
Índices de Rentabilidade ou Retorno sobre Investimento
No mercado internacional, as taxas de juros sobre as dívidas são pós-fixadas, um dos atributos de mais difícil “visualização” e medição em uma empresa é a sua taxa de rentabilidade. Os indicadores consideram um dos conceitos de lucro (contábil, operacional, bruto, etc.) obtidos a partir do Demonstrativo de Resultados e o dividem por um indicador de alocação de capital (ativo total, imobilizado, etc.) presente no Balanço Patrimonial. A depender da metodologia adotada, a rentabilidade de uma empresa reflete sua capacidade de auto-financiamento, as políticas de distribuição de dividendos e sua capacidade de gerar receitas.
Os principais índices de rentabilidade são apresentados no quadro 4. A margem de lucro bruta (MB) é calculada a partir da razão entre o lucro bruto e receita operacional. Já a margem de lucro líquida (ML) é calculada a partir da razão entre o lucro líquido e receita operacional. Ambos medem a capacidade de uma empresa vender um produto ou prestar um serviço a baixo custo e ou preço elevado. As margens não são medidas diretas da rentabilidade sobre ativos por que se baseiam na receita operacional e não no investimento efetuado pela empresa. Empresas comerciais tendem a ter margens mais estreitas e as empresas prestadoras de serviços tendem a apresentar margens mais elevadas.
O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) mede a razão entre o lucro líquido para os acionistas e o capital dos acionistas (patrimônio líquido). Empresas tradicionais que operam em mercados altamente competitivos possuem baixo ROE. Como indicado no quadro 4, o ROE pode ser decomposto a fim de avaliar quanto do retorno depende da margem (LL/Vendas), giro de ativos (Vendas/AT) e alavancagem financeira (AT/PL).
Já o retorno sobre ativos totais (ROA) mede a eficiência no uso dos ativos por parte da empresa. Trata-se de uma das medidas mais comuns de desempenho gerencial e é obtido por meio da razão entre o lucro líquido e o ativo total. Quanto mais capitalizada a empresa menor o ROA. Este indicador de rentabilidade pode ser desdobrado dando uma idéia de ligação com os demais indicadores financeiros. A relação mais famosa é conhecida como sistema DuPont de controle financeiro. Como indicado no quadro 4, esse realça o fato de que o ROA pode ser expresso em termos da margem de lucro liquido (LL/Vendas) e giro dos ativos (Vendas/AT).
Conforme o quadro 5, é possível encontrar das relações entre o ROA e o ROE. Isso é feito multiplicando o ROA pela relação entre o ativo total e o patrimônio líquido dos acionistas. Este índice, ao decompor a eficiência operacional de uma empresa, reflete o que deve ser associado como margem de ganho, giro de ativos e contribuição incremental dos recursos de parceiros.
Outro coeficiente associado ao ROA é o grau de alavancagem financeira (GAF). Este é obtido por meio da razão entre o ROE e o ROA. Este mede o grau com que a empresa consegue alavancar sua rentabilidade a partir do uso de capital de terceiros.
Os índices de rentabilidade possuem relação direta com a gestão de ativos das empresas, sua política de investimento/desinvestimento e forma de financiamento de seus ativos. Particularmente, o ROE sofre de três deficiências: não leva em conta a perspectiva histórica, oferecendo uma visão de médio prazo; leva em conta o valor de livro do Patrimônio Líquido, que pode ser muito diferente do valor de mercado, e tem pouco a dizer acerca do risco do negócio associado ao nível de endividamento da companhia.
Embora o ROA não apresente esta última deficiência (uma vez que toma o valor total do ativo que em muitas situações é financiado por recursos de terceiros), sofre influência da estratégia de investimento da empresa. Desta forma, o ROA pode ser muito distorcido pelo nível de endividamento e, portanto, deve ser olhado com cuidado na comparação de dois negócios diferentes.
[1] Do inglês: Earning Before Interest and Tax (EBIT). Constitui o resultado antes das deduções de Juros e Impostos e mede a capacidade de saldar estas obrigações garantindo um excedente ao acionista.
|